Mudança para a cidade

Perdi a escravidão dos camponeses,
não mais serei feliz com um copo,
perdi a minha liberdade.
Cidade do longo exílio
de silêncio com súbitos estrondos,
devo contar o meu tempo
gasto nas viagens de eléctrico,
devo desfazer as minhas malas fechadas,
moderar o meu pranto, o meu sorriso.

Adeus, como adeus? Esparsas giestas,
costas amplas dos bosques
que rompem a face azul do céu,
carvalhos e azinheiras irmanados no vento,
ovelhas em torno do pastor que dorme,
terra amarela e rapada,
que é a mulher que deu à luz,
e os meus irmãos e as casas onde moram
e os caminhos por onde vão como andorinhas
e as mulheres, não aguento,
adeus, como posso dizer-lhes adeus?

Perdi a minha liberdade:
na feira de Julho, o ar quente
mal deixava passar as palavras,
dois negociantes compraram-me,
um puxou das liras e o outro foi ver-me.
Perdi a escravidão camponesa
dos céus carregados, dos carvalhos,
da terra amarela e rapada.
A cidade apareceu-me à noite
depois de um dia inteiro
o comboio ter avançado aos soluços,
e não havia a nossa lua
e não havia o quadro negro da noite
e os montes estavam perdidos ao longo da estrada.

Roma, 1950

Rocco Scotellaro, Itália (1923-1953), tradução de Nuno Dempster.

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