Reapareceu a mulher dos olhos semi-cerrados
e do corpo íntimo, caminhando pela rua.
Olhou de frente estendendo a mão,
na rua parada. Tudo voltou à tona.
Na quieta luz de um dia longínquo
desfez-se a recordação. A mulher levantou
a fronte simples, e o olhar daquele tempo
reavivou-se. A mão ficou tensa na mão
e o aperto ansioso era o mesmo de outrora.
Tudo retomou as cores e a vida
com o olhar recolhido, a boca entreaberta.
E voltou a angústia dos dias longínquos
quando todo um imóvel verão inesperado
de cores e tepidez aflorou nos relances
daquele olhar humilde. E voltou a angústia
que nenhuma doçura dos lábios abertos
pode amaciar. Um céu imóvel habita
friamente aqueles olhos.
No meio da calma a lembrança,
sob a luz submissa do tempo, era uma dócil
agonizante a quem a janela se enevoa e desaparece.
Desfez-se a recordação. O ansioso apertar
da mão suave reacendeu as cores
e o verão e o calor sob o céu luminoso.
Mas a boca entreaberta e os olhos submissos
só dão vida a um duro inumano silêncio.
Cesare Pavese, Itália (1908-1950), tradução de Nuno Dempster.