Estavas a meu lado…

josé a v
Xulio Formoso, José Angel Valente em Paris

Estavas a meu lado
e mais próxima de mim que os meus sentidos.

Falavas do íntimo do amor
armada com a sua luz.
Nunca palavras
de amor mais puras respirara.

Estava a tua cabeça suavemente
inclinada para mim.
O teu longo cabelo.
e a tua alegre cintura.
Falavas do centro do amor
armada com a sua luz,
numa tarde cinza de qualquer dia.

Memória da tua voz e do teu corpo
a minha juventude e as minhas palavras sejam
e esta imagem de ti me sobreviva.

José Angel Valente, Espanha (1929-2000), tradução de Nuno Dempster.

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Pato de Inverno

Em cima da água gelada
o patito escorregava.

Em cima da água dura,
o patito da laguna.

Em cima da água fria
o patito silva que silva.

Silva que silva escorregava
e em vez de chorar silvava.

José Angel Valente, Espanha, 1929-2000, traduzido por Nuno Dempster.

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A si dou uma flor

A si dou uma flor,
se me permite,
um gato e um microfone,
uma chave de fendas totalmente sem uso,
uma janela alegre.
Agite tudo.
Faça um poema
ou qualquer outra coisa.
Leia-a ao vizinho.
Deite-a feliz para a sargeta.
E bom-dia,
não volte nunca mais, saúde
quantos ainda recordem
que vamos apodrecendo de impotência.

José Ángel Valente, Espanha (n. 1929), Tradução de Nuno Dempster

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